“O céu e a terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha”
Tao Te Ching, cap 5
O mistério continua.
A história se entrelaça...Quatro de abril de 1968, Rogério Duarte é preso ao tentar ir à missa de sétimo dia de Edson Luís.
Quatro de setembro de 1969, sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Entre seus participantes, Fernando Gabeira e Carlos Marighella.
Ainda em 1969, Frei Tito, entre outros padres dominicanos, é preso em operação que visava a morte de Carlos Marighella. No início de 70 ele é torturado sob o comando do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Em 71 é libertado com mais 14 presos políticos, em troca da libertação do embaixador suíço Giovani Enrico Bucher, sequestro mostrado na adocicada série “Anos Rebeldes”.
... a minha história16 de abril de 2007 com muita dor e sofrimento fui balizada durante a pré-estréia do filme “
Batismo de Sangue”. Sábado passado, 25 de outubro de 2008, terminei de assistir a série “Anos Rebeldes”, tão importante para minhas irmãs durante a adolescência. Domingo votei em Gabeira. Agora leio “Tropicaos”, de Rogério Duarte e minha pergunta se revela em seu texto caótico:
“Eu e o Ronaldo fomos escolhidos, os únicos entre vinte milhões de padres, artistas, favelados. Por isso será dado um lugar especial para nós na história. (...). Mas eu quero que ninguém se esqueça do recado: Da próxima vez serão outros. É preciso exterminar os 20 milhões.”Sempre tive muito receio de ver filmes sobre a tortura na ditadura. Sou muito sensível à cenas violentas. Mas, às vezes, também é importante sentir a profundidade da ferida no corpo da nossa pátria, mãe gentil...
E por mais que o filme me desse uma noção da dor, sei que não posso sentir 10% do que realmente foi... Li o depoimento de um dos atores (acho que do Léo Quintão) dizendo que nas filmagens ele sabia que quando quisesse, podia pedir para parar, o que não acontecia na realidade. Essa percepção é muito forte...
Sofri muito durante a exibição. Quando os créditos do filme começaram a subir, a platéia começou a aplaudir e eu me recusei a isso. Estava com uma dor tão profunda, que parecia que se eu aplaudisse, estaria aplaudindo os atos de violência assistidos.
Foi preciso deixar passar TODOS os créditos para que eu me sentisse aplaudindo o diretor, os atores, toda produção e personagens reais, presentes na exibição. Depois tive vontade de abraçar todo mundo, num gesto de solidariedade.
Saí do Odeon pensando em quais seriam os violentados do momento presente (Os tais 20 milhões).
Foi difícil... mas imprescindível.