quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Na Natureza Selvagem


Há momentos em que o lado negro, duro e cruel da vida nos é revelado de forma impactante. Essa dureza é a percepção de que a realidade difere daquilo que idealizamos. Ou que desejávamos coisas impossíveis, como as crianças que acreditam que o mundo tem que ser do jeito delas e pra elas. Sair desse egocentrismo é dolorido porque julgamos ruim o que não é do nosso jeito, temos dificuldades de aceitar a vida e as pessoas como elas são. “Narciso acha feio o que não é espelho”.


A realidade não é boa ou má, ela apenas é. Lutamos tanto por liberdade de expressão, liberdade de ser o que se é, mas oferecemos pouca liberdade aos outros. Assim somos: egoístas e egocêntricos. Perceber isso é doloroso, sentimos vergonha, nos condenamos, nos punimos e na maioria das vezes preferimos fingir que não vemos nada, que a realidade pode ser do jeito que sonhamos e maquiamos a verdade.

Mas algumas vezes decidimos encarar a dor ou simplesmente não conseguimos fugir dela. Nesses momentos a ruptura se faz necessária. Rompemos com os outros, com as circunstâncias e, principalmente, com nós mesmos – essa é a parte mais difícil.

No Tarô há a carta do Louco ou Bobo, um herói jovem que parte sozinho para uma jornada desconhecida, mas parte com muito entusiasmo. Ele não sabe onde vai, o que encontrará e como ficará, mas sente que precisa seguir essa viagem. É um andarilho, errante e despreparado. Sua bagagem é ínfima e sua percepção é desprezada por ele mesmo. Ele vai caminhar por todas as cartas e passará por muitas situações até encontrar-se relizado. Na Natureza Selvagem é pra mim a história desse Louco que habita nossos corações e que precisamos encarnar uma vez ou outra.

Quando partimos, não percebemos o rompimento interno, achamos que estamos sempre quebrando com o outro e mantendo fidelidade às nossas crenças... mas aos poucos, vemos que as coisas não são bem assim, que também erramos, que também somos fracos. Algumas horas – quando passamos pela carta da Torre – sentimos o chão desabando e não sabemos em que acreditar. Nessas horas nos afastamos do mundo em graus variados e Christopher McCandless foi ao extremo para encontrar a sua natureza selvagem.

4 comentários:

Felipe Manhães disse...

Gostei mto desse filme. Foi uma virada e tanto numa vida q poderia ter sido tranquila, apesar do passado familiar conturbado. Foi uma busca realmente incansável por um ideal desacreditado por todos. Assim seguimos.

Anônimo disse...

Ainda não sei direito o que dizer...
Mas gostei do que disse...

cotrimus disse...

Cintia, brilhante.
Sua sensibilidade, percepção e capacidade de síntese são excepcionais!
Eu tive milhões de insights tb, mas a essência de todos vc consegui descrever muito bem.
Na verdade, o meu Alexander Supertramp está bombando...e me dizendo tantas coisas...
Bjs grandes.

Anônimo disse...

Engraçado que vc seguiu uma linga bem diferente da que eu imaginava, e assumo que fiquei boquiaberto com as comparações com a carta "tolo". Na boa, esse filme arde, por que atinge tanto aqueles que são menos presos a padrões impostos por uma sociedade ou afim, como tbem sua contra-parte...

Entrou para a minha lista de top50 com certeza!