quarta-feira, 8 de abril de 2009










— A senhora sabe montar torneira?

— Não, minha filha, a gente vai inventado.

Talvez as palavras sejam um pouco diferente, mas essa é a idéia. Este diálogo acontece no filme O Banheiro do Papa e me tocou bastante porque acho que sempre preciso aprender mais alguma coisa, ler mais um livro, fazer um curso, uma pós, um MBA, sei lá... falta sempre algo para que eu meta a cara no mundo e faça.

Esse simples diálogo me remeteu à verdade: não falta nada, basta ir inventando. A vida precisa ser criada. É fazendo que se aprende – dito popular. Se a prosperidade não chegou àquele lugar esquecido do Uruguai, não foi por falta de esforço, inteligência e criatividade de seu povo.

Tudo bem, se por um lado o diálogo mostra o empreendedorismo das pessoas, por outro expõe o despreparo das pessoas, a falta de conhecimento. E nisso entraria todo o meu desejo de saber mais. Mas vi naqueles personagens uma coragem – oriunda da necessidade de sobrevivência – que não encontro.

E o filme me falou dessas pernas que pedalam mais do que podem, que superam seus limites, correndo o risco da perda, mas se lançam adiante. Não posso reclamar das minhas pernas. Tenho até me arriscado bastante, mas preciso dosar conhecimento e investir na inventividade.

“Risco é a chance de dar certo, não a chance de dar errado.” Amyr Klink

Aquilo que deu errado foi só uma etapa no caminho do acerto.

A intenção dos diretores foi falar da ingenuidade gerada pela pobreza e suas consequências – veja no YouTube –, talvez uma advertência acerca dos sonhos, mas para mim bateu o contrário, coisas da arte.


Fora esse meu transe, a fotografia do filme é linda, a inserção de imagem documetal é de uma sutileza perfeita e faz um duo com as lágrimas que escorrem no rosto da menina ao ver seu pai na TV. O que se passaria depois daquilo, pareceu-me que ela também despertaria de suas ilusões...

Quero terminar esse texto com uma frase da crítica do Janot, que além de ter feito um título ótimo, também fechou com chave de ouro: “em sua via crucis, Beto atravessa a multidão de fiéis carregando nos ombros, ao invés da cruz, um vaso sanitário.”

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