quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A criada e a criatura


Apesar de assustador, o filme A Criada é excelente e não morde. A cena mostrada no cartaz é emblemática e óbvia sobre o monstro que há em nós.

O Aurélio, define a raiva como "grande aversão".  Sentir raiva poderia ser então, ter uma grande aversão a algo que lhe causa mal ou não satisfaz suas necessidades e desejos. Portanto, este deve ser um sentimento natural e benéfico que, assim como o prazer, serve de bússola e nos ajuda a direcionar a vida. No entanto, não sabemos usar nossas ferramentas naturais e transformamos a raiva em violência. Feroz, ela sai destruindo tudo e não nos tira do lugar.

Como animais que somos, agredimos quando nos sentimos acuados. E se alguém te mostra os dentes é porque sente-se ameçado. Nesse caso, o melhor a ser feito é não responder no mesmo tom, mas usar a racionalidade e a afetividade para sair do conflito e evitar mais atrito. É compreensível que se queira responder com a mesma irracionalidade e violência, pois somos animais. Mas a resposta raivosa será mais destrutiva que resoluta.

Aceitar a agressão, seja ela interna ou externa, não de forma submissa, mas buscando compreender a origem do problema, identificando sobre que insatisfação ela está pautada é a atitude que pode dissolver a raiva. A partir da compreensão da origem, pode-se tomar decisões mais acertadas. E muitas vezes sair fora é uma excelente solução.

"Ganhar ou perder, o que mais adoece?

Quem sabe se conter não irá se exaurir
Sendo assim, poderá viver longamente"

Tao Te Ching, 44

Ok, a teoria está escrita, agora, vamos à prática!

4 comentários:

Felipe Manhães disse...

Eu acho um barato esses seus devaneios, pq eu leio e continuo sem saber quase nada sobre o filme hehehe Mas isso é bom pq mantenho minha curiosidade, aguçada por sua percepção =)
É como uma espécie de visão prática da ficção.

Rob disse...

Curioso você ter citado "Quem sabe se conter não irá se exaurir".

A nossa cultura, sei lá por que razões, despreza a resposta racional e admira quem externa sua raiva. E perdoa os efeitos colaterais, propondo que se perdoem as agressões feitas "num momento de raiva".

A ponto de haver um diagnóstico, sempre dado às pessoas que sabem manter sob controle suas emoções: quem não extravasa "guarda" coisas ruins no seu interior - e morre de infarto. Já ouvi isso até de médico.

Cintia de Sá disse...

Felipe, é bom saber que aguço sua curiosidade, he he he.

Sempre que escrevo tenho a preocupação de não entregar nem descrever o filme, pra isso existem as sinopses. Não falo nada que possa levar a pessoa a concluír o que se passa no filme e como ele termina. E provavelmente se você assistir, verá outras coisas, completamente diferentes das que vejo. Bjo!

Cintia de Sá disse...

Roberto, sentir raiva e explodir, violentando o outro é destrutivo, mas sentir raiva e implodir, destruindo a si próprio também não é bom. São dois lados da mesma moeda. Como diz um amigo meu, aproveite a energia da raiva e direcione ela para algo construtivo, isso pra mim é ser racional. Sentir, não fingir que está tudo bem, e pensar nela como uma ferramenta para sair do lugar, encontrar uma solução para o problema.

O que costumamos fazer é sentir, engolir e não sair do lugar. Logo virá outra raiva, proveniente do mesmo desconforto, e engolimos outra vez... até que uma hora explode, pra dentro ou pra fora, é tudo bomba! E aí podemos falar de outro filme: Dogville.

O texto do Tao Te Ching, sobre conter-se, é que na maioria das vezes, a fonte do desconforto é nossa. Queremos demais, queremos tudo perfeito, não aceitamos as coisas como são, queremos ganhar sempre. E nessas vezes, perder é a melhor solução.

Putz! Escrevi muiiiiiito! Mas ainda quero deixar o texto completo do Tao Te Ching:

"A fama ou o corpo, o que mais se ama?
O corpo ou a riqueza, o que vale mais?
Ganhar ou perder, o que mais adoece?
Por isso o excesso de desejo causará uma morte rica

Quem sabe se contentar não se humilha
Quem sabe se conter não irá se exaurir
Sendo assim, poderá viver longamente."