quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Cinema e (in)adequação

"Fiz muitas coisas na vida (...) Tudo isso, pra mim, tem a ver com um problema de inquietude, com o fato de ter de sobreviver de qualquer maneira e reagir a um profundo sentimento de inadequação. Experimento continuamente a exigência de fazer qualquer coisa de novo para ser bem aceito. Muitos consideram que na vida é preciso estabelecer uma meta para encontrar o sucesso, mas eu não acredito, mas eu não acredito que funcione dessa maneira. Talvez no mundo dos negócios ou no âmbito científico. Na arte, ao contrário, o aperfeiçoamento só pode surgir da inadequação. Pensamos ser inadequados, não bastante bons e nos esforçamos para fazer algo diferente." Abbas Kiarostami, pág. 181

Ele pegou seu sentimento de inadequação e fez cinema. E eu?O que tenho feito com o meu sentimento de inadequação? Tenho sentado à beira do caminho e chorado? É possível. Hoje estou confrontando minha inadequação – preciso continuar escrevendo essa palavra, não sei porque...

Segunda vi o filme Close-up do Kiarostami e me emocionei bastante. Ele conseguiu fazer um bom cinema.

O trecho citado acima me lembrou uma declaração do Yves Saint Laurent num documentário que vi recentemente. Quando questionado sobre seu ar de sofredor, ele disse: "não existe criação sem sofrimento". E explica que para criar é preciso abrir-se aos sentimentos, sensibilizar-se, e isso te deixa mais suscetível a dor.

Há também a frase do Nietzsche: "É preciso ter o caos dentro de si para dar a luz a uma estrela bailarina". Enfim, não sei se o sofrimento é tão fundamental ao ato de criar, também creio numa criação prazerosa, mas sei que no meu trabalho passo por momentos angustiantes, mesmo não pertencendo ao Olimpo.

Deixo pra vocês uma das mais gostosas animações que conheço e que também fala dessa inadequação do artista: A arte da sobrevivência.

2 comentários:

Pedro Tavaresw disse...

"Close-up" é ótimo.

cotrimus disse...

"não existe criação sem sofrimento"
total...
adorei tb a animação.
bjs