quarta-feira, 24 de junho de 2009

Muito além de Brokeback Mountain











Somos criados e educados para desempenhar certos papéis sociais. Homens e mulheres precisam crescer, aprender ofícios, desfrutar a juventude em festas e passeios memoráveis, encontrar um parceiro do sexo oposto. Ter filhos e criá-los para que cumpram adequadamente sua função social e assim, esperam-se os netos para serem paparicados com todos os mimos da Terra. No meio disso, devemos construir uma carreira profissional, trabalhar com afinco, manter uma casa e todo conforto que a sua geração permitir. Fazer algumas coisas inesquecíveis para serem repetidas nas conversas com amigos. Trair com classe ao menos uma vez na vida e fazer alguma cena de ciúme. O mesmo filme se repete há milênios.

Tudo isso parece meio monótono, pelo menos pra mim parece! Mas estamos programados a seguir essa trajetória, mesmo que ela não nos satisfaça. Quando alguém se recusa a cumprir sua função é logo tarjado de insano, doente, incapaz, inadequado. É colocado à margem e olhado com desconfiança, quando não são diretamente hostilizados e violentados. O que desencoraja os indecisos a tentar fazer diferente. Essa é a força do coletivo, da não-mudança, da manutenção da ordem social.

Por sorte, muitos sentem-se tão inadequados ao que a sociedade espera deles, que doam suas vidas ao trajeto errante dos que não sabem ao certo onde devem chegar. Por esses labirintos acontecem as mudanças. E ao assistir O Segredo de Brokeback Mountain, agradeci as muitas mulheres que não aceitaram sua trajetória de submissão ao casamento como forma de sobrevivência.

Num filme tão delicado e bonito sobre a questão homossexual, saltou-me aos olhos a transformação do papel feminino. As mulheres no pano de fundo contaram uma história paralela a dos caubóis, com uma sutileza infinita.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Quartas no cinema


















Esse post é em homenagem ao meu amigo Rafael, que enfrentou comigo todos os desencontros do dia 3 de junho. Explico...

Há muito tempo quero passar a marcar um cineminha com os amigos nas quartas-feiras. Esse mês decidi começar a fazer isso. Enviei e-mails para os mais próximos, com uma lista de três filmes e perguntei qual eles veriam comigo. A lista era, em ordem de preferência minha:

1. Il Divo (Mostra de cinema italiano)
2. Vocês, os vivos
3. Budapeste

Três pessoas me responderam dizendo que veriam Budapeste. O Rafael afirmou que veria Il Divo e outra amiga minha não deu certeza. Então decidi ver o mais votado. Enviei novos e-mails dizendo que assistiria ao filme brasileiro, minha última opção.

No dia, todas as pessoas que haviam votado no Budapeste não puderam ir. Então, decidi ligar para o Rafael e marcar de ver o filme italiano. A sessão, segundo eu tinha visto, seria às 21:40h. Fui para o Odeon e comprei o ingresso para a sessão seguinte. Quando olhei o bilhete... era do Cachaça Cinema Clube!!! Voltei na bilheteria, perguntei pelo Il Divo e tive a seguinte resposta: já saiu de cartaz. Quando o Rafa chegou eu estava perplexa com a confusão que eu havia feito.

Como o Rafael é cuca fresca, entramos às 21:40h na sessão do Cachaça, que havia começado às 21h... só furada! Demos boas gargalhadas, mas fiquei com aquela frustração por não ter visto o filme italiano. Depois descobri que troquei o cinema, Il Divo estava no Espaço de Cinema às 21:40h.

Enfim, minha primeira tentativa de marcar filmes com os amigos foi uma roubada, não pelos curtas em si, mas pelos desencontros. Que não pararam por aqui. No sábado seguinte encontrei uma amiga que ficou me esperando no cinema para ver Budapeste. Ela decidiu na hora e não me ligou, resolveu ir de surpresa e foi surpreendida. Ainda bem que ela também é descolada e viu o filme sozinha, sem grilos.

Semana passada, com o feriado, decidi não ir ao cinema, mas hoje consegui encontrar duas amigas e vimos o filme do Simonal. Finalmente, encontros e bom filme!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Surto Helvético











O tipo móvel metálico de Gutenberg revolucionou o mundo através da popularização de escritos. O conhecimento se espalhou no formato de livros, jornais, revistas etc. Vivemos uma sociedade imersa nas letras, nos tipos. Esse revolucionário objeto, o tipo móvel, era originalmente esculpido um a um por profissionais altamente qualificados. Seu desenho era, e ainda é, uma belíssima área do conhecimento chamada tipografia. Os tipógrafos de hoje se debruçam diante da tela do computador para criar famílias tipográficas – um alfabeto de maiúsculas, minúsculas, números, etc. todas com uma mesma identidade. Aqui no Brasil temos bons tipógrafos e só para citar uma fonte, destaco a Ghentileza Original, desenhada a partir dos murais do Profeta Gentileza, uma linda homenagem e um trabalho de preservação cultural.

O que isso tem a ver com cinema? Teriam muitas coisas, a apresentação dos créditos nos filmes é a mais óbvia. Mas meu surto cinéfilo foi um documentário de 2007, feito em comemoração aos 50 anos da fonte Helvetica, uma das mais popularizadas pelo design moderno. Onipresente em sinalizações e logotipos de empresa ao redor do mundo, frequentemente associada à globalização. Foi a partir dela que se desenhou a tão conhecida Arial.

O documentário mostra a opinião de designers veteranos e novatos sobre a fonte. Alguns entusiasmados outros revoltados com o uso da velhusca do pós-guerra. É interessante perceber quanta informação um desenho de letra, aparentemente simples, é capaz de carregar. Ou melhor, quanto simbolismo há em coisas que passam por nós a cada minuto e não estamos conscientes disso. E como a história de um símbolo depende da apropriação que se faz dele. A Helvetica pretendia ser um tipo neutro, que se encaixa bem em qualquer situação e por isso, abrangente, arauto de todas as idéias, suficiente. Essa neutralidade é posta à prova no filme e mostra-se que seu uso pertence a uma ideologia.















“Para escrever a palavra cachorro a letra não precisa latir”
Massimo Vignelli, designer veterano responsável pela identidade de várias empresas como a AmericanAirlines.













“Isso aqui é cachorro? Claro que não, não vejo cachorro aqui”
David Carson – designer ganhador de mais de 140 prêmios – diante de um mural com várias palavras escritas em Helvetica.

Ainda não entendeu o porquê da palavra surto no título deste texto? Sempre que vejo esse documentário fico procurando a Helvetica por todos os lados... confira o cartaz e encontre-as por aí...



















Site oficial do filme


Tipografia na Wikipedia, tem um desenho mostrando a anatomia do tipo móvel.


Sobre a Helvetica na Wikipedia, tem uma comparação dela com a Arial.


Tupigrafia, excelente revista brasileira de tipografia