quinta-feira, 30 de julho de 2009

Üç Maymun










Quando as luzes precocemente se acenderam e ouvi a voz de minha amiga dizendo: “vamos?” eu ainda estava num transe, tudo o que sentia era uma maldição, como uma batata quente, que vai seguindo de vida em vida, destruindo a todos. E o que poderia interromper esses ciclos devastadores? A única resposta que encontrei foi “assuma seus próprios erros, por piores que pareçam e maiores que sejam as consequências”. O resultado pode ser uma desgraça temporária, mas o mal se encerra. Jogar a culpa em outra pessoa pode trazer alívio imediato, mas o problema permanece e vai crescendo com o passar do tempo. Melhor matar o bicho enquanto ainda é filhote.

Com uma visão machista, onde a mulher é o ponto de maior vulnerabilidade, o filme 3 Macacos tem um ritmo lento, diálogos desencontrados, silêncios e uma bela fotografia. Assim, ele passa letargia. O silêncio é tão grande que os pequenos ruídos do público na sala participaram do filme. Algumas pessoas inquietas, outras ressonando... a única maneira de usufruir é mergulhar nessa lentidão e deixar os sentimentos fluírem, até que chegue a grande tempestade. Pra mim ficou a sensação de que assumir os erros seria aceitar os trovões e relâmpagos, mas sabendo que depois tudo passa e a chuva cura a terra.

“Storms have come!
Rains wash the earth away
Dark skies fall down
Into another day.”
Enya, Storms in Africa

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Postar ou não postar?










Semana passada foi bem legal o Anima Mundi. Vi poucas sessões, mas valeram cada centavo. A que mais gostei foi a apresentação do estúdio de animação Laika, sobre o filme Coraline.

Mas o fato é que hoje me sinto como o protagonista do curta que ganhou o prêmio de melhor roteiro, Skhizein, de Jeremy Clapin. Estou à 1,98m de mim mesma e, portanto, não quero falar nada. Até a próxima semana!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Anima Mundi










Adoro festivais! Eles costumam ser ótimas oportunidades para se ver algo de especial, raridades, coisas que não teremos mais oportunidade de ver. E nada disso é exagero. Mas são como um campo minado, a qualquer momento você pode esbarrar numa bomba e desperdiçar dinheiro e tempo. Isso já aconteceu comigo no Anima Mundi. Estive, há uns poucos anos, numa sessão de curtas que eu fiquei até o fim na esperança de algum curta salvar meu dinheiro, o que não aconteceu e voltei pra casa frustrada.

Mas ano passado foi um muito bom, exceto pelo fato de eu ter comprado ingresso para a premiação e não ter ido. #deixa quieto

Os melhores filmes que vi foram:

1. O longa Idiot and Angel, de Bill Plympton. Um filme delicioso sobre nossa contraditória natureza, que cambaleia entre um ser encantador e um completo idiota. A animação é linda, com umas sequências que não me saem da cabeça, mas que não encontro em lugar algum. Ou seja, vi uma raridade.

2. Um curta em francês que não me recordo o nome, e o arquivo do festival não me deixa recordar... os sites são fracos, em geral. Mas era de um cara que pegava uma carona estranha. Uma das animações mais tensas e dramáticas que já vi.

3. Um outro curta brasileiro que começava com uma frase do Nietzsche: "É preciso ter o caos dentro de si para dar a luz a uma estrela bailarina". O filme valeu por isso.

4. The Pearce Sisters, uma animação bizarra, mas que fala muito desse universo distante daqui, que está bem pertinho de nós.

5. E o divertidíssimo Jungle Jail.

Hoje assistirei minhas primeiras sessões do Anima Mundi 2009. Espero ter sorte!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A luz de um morto não se apaga nunca!













Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca,
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,

A luz de um morto não se apaga nunca!

Mário Qintana

Por mais que eu leia esse poema, é difícil absorver e aplicar na vida o ensinamento de que aquele que nada possui, de nada pode ser roubado. E o que muito acumula sofre por medo da perda. Que o melhor é aceitar o fim, desapegar-se e deixar partir. A luz funerária pode ser um fantasma que nos persegue ou a sabedoria que nos ilumina. Asas do Horror! Voejai!

No filme A partida, o protagonista Daigo vive um longo e intenso funeral: a morte do sonho de ser um violoncelista reconhecido. Nessa experiência ele entra em contato direto com a morte e seus rituais, revive o passado para enfim, usufruir do poder transformador das cinzas.

É difícil lidar com términos, ao menos pra mim acontece assim, ainda mais quando se tratam de sonhos. Fazemos de tudo para reviver, para renascer, para reanimar. No entanto, é a simples atitude de aceitar o fim que nos traz a verdadeira paz e conforto.

Que a gente possa enterrar nossos mortos com desapego, na certeza de que fizemos o melhor que podíamos. E, sem se prolongar nos rituais funerários, seguir para a vida.

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P.S.: depois que escrevi o texto acima, fui cuidar de outras coisas e trabalhar em outros projetos. De repente, no meio de um pensamento me veio uma frase muito coerente "já estou há muito tempo maquiando defuntos". E então concluí, com gosto, que tenho essa atividade desde janeiro de 2006! E o filme continua na minha vida, nos meus aprendizados.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

A vez de quem?













Não que ele seja único no filme, os outros atores também dão conta do recado, mas Javier Bardem é sensacional em Onde os fracos não tem vez. Assisti três filmes com ele: esse, Mar Adentro e Vick, Cristina, Barcelona. Nenhum dos personagens dele é igual a outro. Estou encantada e Bardem mereceu o Oscar que ganhou.

Mas quer saber onde os fracos não tem vez? Na morte. E sabe quem são os fracos? Os seres humanos. "Onde a humanidade não tem vez" seria um título mais adequado à sensação que tive do filme. Porque os fracos são todos os personagens, exceto o temeroso Anton, que vai ceifando quem cruza o seu caminho. Ele é a personificação da morte.

No universo em que o filme se passa, bem parecido com o nosso, não há espaço para os humanos, de repente se pisca e morre. Não há salvação. Por mais esperto que seja, em breve a impiedosa chega, certa de sua missão, calma, segura e meticulosa ela não erra o alvo. Não adianta fugir.

Se você se mete no caminho da Morte, ela te leva. Se você acha que pode superá-la, engana-se. Se resolve trabalhar pra ela, vai embora mais cedo. E mesmo que sua missão seja evitar que as pessoas cruzem o caminho letal, um dia você e os demais passarão por ela. No final, todos acordarão. E que mal há nisso?