"Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos (...)
E depois? O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum."
Nunca pensei em escrever sobre Jogos Mortais, mas enfim, quero falar da insatisfação em vê-lo. Confesso que sou fã de suspense, mas uma boa história é difícil de escrever. Na adolescência li alguns livros da Agatha Christie e me deliciava. O primeiro que li foi “Os elefantes não esquecem”, como não sou elefante, já esqueci a trama toda. O mais marcante foi “O assassinato de Roger Ackroyd”, inesquecível por diversas nuances, mas principalmente por uma constatação constante do investigador Poirot: todo mundo tem um segredo. Isso foi mais importante que a trama do assassinato.
Depois, os livros dela foram se tornando pouco surpreendentes pra mim, não que eu adivinhasse a trama antes do fim, mas por achar que o jogo era injusto. A autora raramente revelava fatos cruciais para decifrar o enigma, então, você podia ter descconfianças, mas ela sempre ganharia no último capítulo. Isso sim, pareceu-me tedioso e desleal, do tipo “não sabe brincar, não brinca”. E é nessa direção que Jogos Mortais segue. Esclareço que vi apenas o primeiro e foi suficiente para perceber a desonestidade da história.
Quando o lançaram, muitos diziam entusiasmadamente que se tratava de um filme com final surpreendente. Na minha opinião, um final estapafúrdio, onde o espectador não tem chance de chegar. Mesmo assim, o filme poderia ter um conteúdo plausível, que justificasse o desfecho tirado da cartola. Mas nem isso! Lembrei-me desse filme porque acabei de ler “O caso dos dez negrinhos”, que me indicaram dizendo que o filme Identidade havia sido baseado nele. Como gostei de Identidade, resolvi ler. Há uns dez anos não lia Agatha Christie e mais uma vez a história é contada de forma incompleta e no final, ela vence. Mas nesse livro, isso não faz a mínima diferença. A insanidade do final é explicada por uma mente psicopata perfeita. Um assassino admirável, com o nível de inteligência do psicopata de Seven e de Hannibal, que pra mim são os dois personagens mais bem bolados do gênero. Já em jogos mortais, o assassino também não sabe brincar. Ele impõe a suas vítmas, situações impossíveis de serem superadas, que é contrária à teoria de que ele está tentando salvá-las. Incoerência total. A estética mórbida me agrada, aliás, fui atraída pelos cartazes do fime. O argumento é interessante, mexe com a imaginação. Mas, falta criatividade para dar conta disso tudo.
Só para registro, a única coisa que Identidade e O caso dos dez negrinhos possuem em comum é o clima tenso, de assassinatos consecutivos. O resto é resto. Mais vale o processo de suspense que a história em si.
A direção de arte dos cartazes de Jogos Mortais é ótima, continua surpreendendo com "detalhes" mórbidos.
Identidade também tem um cartaz à altura do filme. Muito bom!
Gosto do título em inglês, demonstra que o fim dos personagens é o menos importante. A primeira capa eu acho que tem Photoshop demais, mas a idéia é boa. Na segunda tem elemento demais gritando, mas a idéia também é boa. Este último tem a melhor solução gráfica, mas falta identidade com a história...